Durante muito tempo, crescemos ouvindo que o futuro seria melhor. Mais confortável, mais justo, mais tecnológico, mais eficiente. Mas aí ele chegou. E, diferente do que esperávamos, parecia muito com o presente só que com mais notificações, mais plataformas e menos pausas. A promessa de uma vida mais simples e conectada virou uma rotina atravessada por e-mails, chamadas de vídeo e um cansaço que não se explica só pelo excesso de trabalho. É sobre isso que queremos falar aqui: o futuro chegou, mas não era como a gente imaginava.
Cadê o tal futuro promissor?
Se olharmos para trás, veremos como a ideia de futuro sempre esteve ligada ao progresso. A geração millennial, por exemplo, cresceu entre filmes futuristas, avanços tecnológicos e uma confiança cega de que tudo daria certo. As máquinas resolveriam os problemas. A internet uniria as pessoas. As cidades seriam inteligentes. Mas o que se desenhou foi outra coisa: uma rotina de excesso, hiperconexão e vidas atravessadas por algoritmos que sabem mais sobre nós do que gostaríamos de admitir.
O trabalho não acabou. Só mudou de roupa.
A utopia do “trabalhar menos com mais eficiência” virou o oposto. Trabalhamos mais, em mais lugares, com mais dispositivos. Home office, coworking, freelas, side projects estamos sempre online, sempre produzindo. O problema é que a estrutura continua a mesma: produtividade acima de tudo, controle de tempo, metas inalcançáveis. Só que agora tudo isso se esconde por trás de sorrisos em reuniões no Zoom e promessas de equilíbrio que nunca chegam.
Tecnologia sem tempo livre
A promessa era que a tecnologia nos daria tempo. Mas o que ganhamos foi a ilusão da disponibilidade infinita. Smartphones que vibram o tempo todo. Aplicativos que otimizam tudo menos o nosso descanso. Plataformas que gamificam até a meditação. A tecnologia não nos deu tempo livre. Ela ocupou o tempo que tínhamos.
O cansaço como linguagem de uma geração
Estamos cansados. Mas não só fisicamente. É um cansaço emocional, simbólico. Um cansaço de precisar parecer feliz, produtivo, presente, informado, criativo e inovador ao mesmo tempo. Um cansaço de estar sempre “em beta”, de nunca parar, de nunca chegar. O desencanto com a ideia de futuro é, em parte, esse esgotamento coletivo. Essa sensação de que estamos pagando caro por um ingresso para um espetáculo que nunca começa.
E se a gente reconstruir a ideia de futuro?
Talvez o problema não seja o futuro. Talvez o problema seja a maneira como o imaginamos. E o quanto delegamos às máquinas, aos sistemas e às promessas que nunca se cumpriram. Se quisermos outro futuro, precisaremos imaginá-lo diferente. Com menos cobrança e mais presença. Com mais tempo livre e menos produtividade performada. Com relações que não dependam de conexão Wi-Fi. Com trabalho que não nos engula por dentro.
O futuro chegou e, na maior parte dos dias, ele é uma aba do navegador entre muitas outras. Mas talvez ainda haja tempo para refazer o caminho. Não precisamos aceitar esse modelo como definitivo. Podemos reaprender a viver — e isso passa, também, por reaprender a sonhar com futuros mais humanos. Porque se o futuro não for bom para o corpo, para o tempo e para as relações, talvez ele nem mereça esse nome.