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2022, o ano em que todo mundo quis sair da CLT e o que veio depois

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Em 2022, o Brasil registrou cerca de 6,8 milhões de pedidos de demissão voluntária, o maior número da série histórica. Em outros tempos, esse dado talvez fosse comemorado como sinal de crescimento da autonomia ou da veia empreendedora brasileira. Mas a realidade é mais complexa — e merece uma análise atenta.

A onda de desligamentos — especialmente entre jovens e profissionais com formação superior — expõe uma crise silenciosa nas relações de trabalho: não é a CLT que está em xeque, mas o modo como o mercado a tem contornado e precarizado.

O que levou tanta gente a pedir demissão?

O aumento nos pedidos de desligamento não significa que as pessoas “não querem mais trabalhar com carteira assinada”, mas sim que o trabalho formal, tal como tem sido oferecido, muitas vezes adoece, sufoca ou não garante o básico. Especialmente em empresas com jornadas exaustivas, metas abusivas e zero espaço para conciliação entre vida e trabalho.

Esse movimento também foi impulsionado por:

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  • A pandemia, que escancarou desigualdades e reposicionou prioridades: viver bem, com saúde e tempo de qualidade, passou a ser essencial para muitos trabalhadores.
  • A busca por modelos mais flexíveis de trabalho, que conciliem autonomia com dignidade.
  • A explosão do trabalho informal e por conta própria, como mostra esta matéria do Nexo Jornal, que nem sempre representa liberdade — muitas vezes, é a única alternativa viável.

Não é romantismo. É resistência.

Chamar esse fenômeno de “grande renúncia brasileira” pode até parecer glamouroso, mas o termo traz um risco: apagar o contexto de fragilidade social e desmonte de direitos que obriga muitos a saírem da CLT sem rede de proteção.

Mais do que uma escolha, para uma parcela significativa das pessoas, sair do emprego formal foi um gesto de resistência à precariedade. Isso inclui:

  • Profissionais que pediram demissão por saúde mental.
  • Pessoas que não aguentaram mais ambientes tóxicos ou relações abusivas.
  • Gente que foi buscar alternativas fora do eixo tradicional, mas sem abrir mão da luta por melhores condições.

Como destaca este artigo da Carta Capital, romantizar esse movimento como “empreendedorismo” é ignorar o que realmente está por trás de muitos desligamentos.

O que esse movimento escancarou?

  • Que autonomia sem direitos é armadilha, e não conquista.
  • Que a CLT ainda é a melhor forma de proteger trabalhadores, especialmente em contextos de instabilidade.
  • Que o Brasil precisa repensar suas formas de trabalho, mas sem romantizar a informalidade.

Caminhos possíveis

  • Fortalecer políticas públicas de incentivo ao trabalho digno e à proteção social.
  • Debater com seriedade a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, como forma de redistribuir tempo e bem-estar.
  • Criar espaços de escuta, acompanhamento psicológico e mediação de conflitos dentro das organizações.

Os pedidos de demissão em massa de 2022 não são um fenômeno isolado. Eles apontam para uma crise mais profunda: a urgência de reinventar a forma como trabalhamos. Em vez de tratar esses números como sinal de progresso ou libertação, talvez seja hora de ouvi-los como um grito. Um grito por dignidade, por saúde, por tempo, por vida. Um pedido de demissão que é, na verdade, um pedido de sentido.

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