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Como o fim da pandemia mudou nossa relação com o tempo

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Nos últimos anos, vivemos uma pausa coletiva forçada. A pandemia de COVID-19 suspendeu rotinas, embaralhou o calendário e nos obrigou a experimentar o tempo de outra maneira — mais confusa, mais introspectiva, mais crua.

Com o retorno à chamada normalidade, muitas estruturas foram retomadas, mas uma coisa parece ter mudado de vez: a forma como nos relacionamos com o tempo.

A pandemia bagunçou o tempo — e isso teve efeitos profundos

Durante o isolamento, a diferença entre dias úteis e fins de semana ficou nebulosa. Muita gente experimentou o chamado “tempo esticado”, onde tudo acontecia devagar — ou rápido demais. O antropólogo francês Marc Augé chamou isso de sobrecarga de presente.

O fenômeno ficou visível até nos buscadores. Em 2020, o Google Trends registrou picos de interesse por termos como “como lidar com o tempo”, “rotina na quarentena” e “quando tudo volta ao normal?” (fonte).

Ao mesmo tempo, tivemos que reaprender a lidar com a espera, a suspensão e a incerteza. Foi um choque — e um convite à reflexão.

Com o fim da pandemia, a pressa voltou — mas algo mudou

Com o avanço da vacinação e a reabertura de escritórios, o mundo apertou o botão de “play”. A vida voltou, mas não como era antes.

Segundo o estudo Resetting Normal da The Adecco Group, 53% dos trabalhadores relataram aumento de estresse no retorno à rotina presencial — e 42% disseram querer mais flexibilidade nos horários (fonte).

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Esse “retorno acelerado” escancarou o cansaço coletivo e a desconexão com nossos próprios ritmos.

O tempo virou pauta política (e não só pessoal)

A pandemia também escancarou desigualdades. Enquanto parte da população pôde trabalhar de casa e até “desacelerar”, milhões de pessoas — especialmente mulheres, mães solo e trabalhadores informais — acumularam jornadas exaustivas.

Relatórios da OIT destacaram como o tempo de cuidado e trabalho não remunerado aumentou desproporcionalmente entre as mulheres durante a pandemia .

Desde então, o debate sobre tempo deixou de ser só filosófico: tornou-se social e político. Quem tem o privilégio de desacelerar? Quem pode escolher quando parar?

O que ficou do tempo da pandemia?

Nem tudo voltou ao que era. Algumas mudanças vieram pra ficar:

  • Mais busca por pausas conscientes: O interesse por sabáticos e tempos sabáticos cresceu, como mostra matéria recente da BBC Brasil.
  • Trabalho com propósito e presença: Cada vez mais pessoas questionam jornadas exaustivas e buscam trabalhos que respeitem seus ritmos.
  • Flexibilidade como valor permanente: Modelos como semana de 4 dias ou trabalho assíncrono ganharam força — e bons resultados.
  • Novos significados para o tempo livre: Não é mais sobre “preencher” cada hora com algo produtivo. É sobre viver o tempo com intenção.

A pandemia redesenhou nossos ponteiros invisíveis. Embora o mundo tenha voltado a girar depressa, algo em nós passou a girar mais devagar. Aprendemos (às vezes na marra) que correr nem sempre nos leva aonde queremos chegar.

O tempo, agora, é mais do que um recurso: é matéria de cuidado. Um território sutil que precisa ser cultivado com presença, silêncio e escolhas. Porque talvez viver bem seja, antes de tudo, saber quando parar.

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