Você dorme. Acorda. Trabalha. Entrega. Faz uma pausa — e continua cansado.
Mesmo quando descansa, o corpo ainda parece pesado. A mente não para. A caixa de entrada segue cheia, o feed não termina, e tudo parece urgente.
A pergunta é inevitável:
Por que estamos todos tão cansados?
E mais importante:
Como viver, trabalhar e criar sem carregar esse peso crônico de exaustão?
O cansaço que não é só físico
A gente não está só com sono.
A gente está sobrecarregado de estímulo. De expectativas. De comparação.
De uma sensação constante de que sempre falta alguma coisa: foco, tempo, energia, presença, reconhecimento, silêncio.
Esse cansaço não passa com uma boa noite de sono.
Porque ele não é só sobre o corpo. É sobre o sistema.
O trabalho saiu do escritório — mas entrou em tudo
Com o trabalho remoto, vieram muitas liberdades. Mas junto, uma armadilha sutil: a dissolução dos limites.
Quando o trabalho mora no mesmo lugar que você, é fácil deixar ele escorregar para dentro de tudo. Do sábado. Da viagem. Da mente.
Você não precisa estar disponível o tempo todo. Mas está.
Você não precisa responder agora. Mas responde.
Você não precisa render sem parar. Mas tenta.
E isso cobra. Diariamente.
Estamos cansados de performar
Não é só sobre trabalho.
É sobre manter uma imagem. Atualizar o perfil. Mostrar produtividade, felicidade, organização, leveza.
É sobre estar bem — ou, pelo menos, parecer estar.
Esse esforço constante de performance esgota até os momentos que deveriam ser descanso.
Se você se identificou, talvez goste de “E se sucesso não for o que você quer?”
A exaustão como sintoma (não como identidade)
A gente precisa parar de normalizar o cansaço como modo de vida.
Ele é um sinal. Um pedido de ajuste. De pausa. De mudança.
Não um troféu.
Talvez não dê pra mudar tudo agora. Mas dá pra começar pequeno:
- Reduzir o tempo de tela quando possível
- Estabelecer horários de parada (e respeitá-los)
- Ficar offline por um tempo sem culpa
- Ter pelo menos uma atividade por dia que não envolva resultado
E principalmente: conversar sobre isso.
Estamos todos cansados — e talvez seja hora de ouvir isso com mais cuidado.
Cansaço não é falha. É linguagem.
E pode ser o ponto de partida para um novo jeito de viver, trabalhar e criar.
Não porque temos todas as respostas. Mas porque também sentimos — e seguimos tentando.
“O que mais cansa não é trabalhar muito.
O que mais cansa é viver pouco.“
Mia Couto

