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Ano sabático: e se a gente não deixasse pra viver só depois dos 60?

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Acho que o ano era 2019, não tenho certeza. Assisti ao documentário Quanto tempo o tempo tem e, desde então, frequentemente me pego pensando em “largar tudo” e me aposentar por dois anos. Não só pela exaustão, mas pela vontade de experimentar a vida sem a lógica do relógio. Desde então, me pergunto: por que a gente espera tanto pra viver o que realmente importa?

A pergunta ficou ecoando. E foi ganhando peso à medida que o tempo foi passando (e o tempo sempre passa). A gente vai adiando sonhos, postergando pausas, acumulando metas e boletos, na esperança de que um dia o ritmo desacelere sozinho. Como se um alarme fosse tocar avisando: “agora você pode descansar, pode ir, pode viver.”

Mas esse alarme nunca toca. Porque, no fundo, a lógica do sistema é manter a gente correndo. Correndo atrás de status, de segurança, de reconhecimento, de estabilidade. E, enquanto isso, a vida real – aquela que a gente gostaria de viver quando “tudo estiver mais tranquilo” – vai ficando pra depois.

Foi assim que comecei a me interessar pela ideia do ano sabático. E depois pelas “mini aposentadorias”. E por qualquer estrutura de vida que não me fizesse trabalhar por 40 anos seguidos para só então começar a viver. Essa conta não fecha. E nem precisa mais.

Tirar um tempo fora não é fuga. É escolha. É planejamento. É escuta.

E não precisa ser um ano inteiro. Às vezes, uma pausa de dois meses pode mudar tudo. Pode trazer novas ideias, ampliar perspectivas, resgatar o fôlego e o desejo. Há quem aproveite esse tempo pra viajar, pra criar algo próprio, pra estudar, pra cuidar de si, pra fazer nada — o que, aliás, também é fazer muito.

Claro, nem sempre é simples. Existe o fator financeiro, a estrutura familiar, as obrigações diárias. Mas há também uma parte que é mais sobre permissão do que sobre condição. Porque, muitas vezes, a gente nem se permite cogitar essa pausa. Porque ainda está enraizada a crença de que só vale parar quando o corpo colapsa. Ou quando a sociedade valida.

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Mas, e se a gente fizesse diferente? E se começássemos a ver o tempo como um recurso tão valioso quanto o dinheiro? E se nossas escolhas fossem guiadas pelo que nos nutre, nos move, nos reconecta?

Essas pausas não precisam ser momentos de improdutividade. Muito pelo contrário. É no silêncio, no respiro, na suspensão da rotina, que muita coisa se organiza por dentro. É ali que surgem novos caminhos, novas vontades. Que a gente ouve aquilo que estava abafado pelo barulho do “fazer sem parar”.

Penso que, mais do que uma ruptura, o sabático é uma costura. Um jeito de retomar a conversa com a nossa própria história. De olhar para os dias com mais presença. De lembrar que o tempo é o que temos de mais nosso — e que a gente pode escolher como usá-lo.

Longe de ser uma receita, essa ideia é uma provocação. Porque talvez você não queira se afastar do trabalho. Talvez queira apenas reorganizar sua semana, redimensionar seus horários, tirar uma sexta-feira por mês pra não fazer nada. E tudo isso vale.

A lógica das pequenas aposentadorias não é sobre parar de produzir, mas sobre começar a viver de forma mais coerente com os próprios desejos. É sobre quebrar o mito da produtividade infinita e entender que o tempo é limitado, sim — mas também é elástico, quando bem vivido.

Se a gente espera uma vida inteira para se aposentar e viver o que sonha… talvez já tenha passado da hora de inverter a equação. De fazer do agora um lugar onde também se vive. E não só onde se corre.

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